segunda-feira, 8 de junho de 2009

O ser humano deixa marcas

Às vésperas do Dia Mundial do Meio Ambiente, no lugar de comemoração, reflexão e mudança de estilo de vida

Depois de amanhã é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente, uma boa oportunidade para a promover uma reflexão sobre o papel de cada um em relação à garantia das condições de vida às gerações futuras. E você? Já parou para pensar que seu estilo de vida deixa marcas no meio ambiente que podem ser maiores ou menores, de acordo com suas escolhas? Quanto mais consumimos, maiores marcas deixamos no planeta.

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A expressão “pegada ecológica” é uma tradução do Inglês “ecological footprint” e refere-se, à quantidade de terra e água necessária para sustentar as gerações atuais, tendo em conta todos os recursos materiais e energéticos gastos por uma determinada população. O termo foi primeiramente usado em 1992, pelo professora canadense William Rees, da University of British Columbia. Em 1995, Rees e o co-autor, Mathis Wackernagel, publicaram o livro “Our Ecological Footprint: Reducing Human Impact on the Earth”.

A “pegada ecológica” pode ser usada para medir e gerenciar o uso de recursos através da economia ou para explorar a sustentabilidade do estilo de vida de indivíduos, produtos e serviços, organizações, setores industriais, vizinhanças, cidades, regiões e nações.

Exatamente por estar relacionada aos padrões de consumo, a “pegada ecológica” de uma população tecnologicamente avançada é, em geral, maior do que a de uma população subdesenvolvida.

Para calcular as pegadas foi preciso estudar os vários tipos de territórios produtivos (agrícola, pastagens, oceanos, florestas, áreas construídas) e as diversas formas de consumo (alimentação, habitação, energia, bens e serviços, transporte e outros). As tecnologias usadas, os tamanhos das populações e outros dados, também entram nessa conta.

Cada tipo de consumo é convertido, por meio de tabelas específicas, em uma área medida em hectares. Além disso, é preciso incluir as áreas usadas para receber os detritos e resíduos gerados e reservar terra e água para a própria natureza, ou seja, para os animais, as plantas e os ecossistemas onde vivem, garantindo a manutenção da biodiversidade.

A “pegada ecológica” foi criada para ajudar-nos a perceber o quanto de recursos naturais utilizamos para sustentar o nosso estilo de vida, o que inclui a cidade e a casa onde moramos, os móveis que temos, as roupas que usamos, o transporte que utilizamos, aquilo que comemos, o que fazemos nas horas de lazer, os produtos que compramos.

Resumindo: a “pegada ecológica” de um país, uma cidade ou uma pessoa, corresponde ao tamanho das áreas produtivas de terra e de mar necessárias para gerar produtos, bens e serviços que sustentam determinados estilos de vida. Em outras palavras, é uma forma de traduzir, em hectares, a extensão de território que uma pessoa ou toda uma sociedade “utiliza” , em média, para se sustentar.

O movimento das ecovilas constitui um exemplo de como reduzir a “pegada ecológica” de um indivíduo, família ou comunidade. Nele é possível integrar harmonicamente vida social, econômica e cultural a um padrão de vida sustentável em todos sentidos. Começando pelo tipo de materiais de construção, redefinição de padrões de consumo e o ato de compartilhar e cooperar com as pessoas ao redor, atitudes coletivas que podem diminuir muito o impacto individual.

Insustentável

Se todos no mundo adotassem o mesmo padrão de consumo das classes A e B brasileiras, seriam necessários três planetas Terra para repor os recursos naturais utilizados. Segundo o relatório Planeta Vivo, da Rede WWF, a população mundial já consome, em média, 25% a mais do que a Terra é capaz de repor.

No ano passado, a organização não-governamental (ONG) WWF-Brasil divulgou pesquisa, realizada em parceria com o Ibope, que reúne dados sobre os hábitos de consumo do brasileiro. O objetivo foi identificar tendências de comportamento e qualidade de consumo do nosso povo e os impactos que esses padrões geram sobre o meio ambiente e, também, identificar avanços para um consumo consciente da sociedade brasileira.

A pesquisa traz informações valiosas, inclusive para orientar as políticas públicas de transportes, tratamento de resíduos sólidos e energia, por exemplo.

Dados sobre o comportamento do brasileiro em casa com relação à destinação do lixo, uso de energia elétrica, água; além de hábitos de consumo em supermercados e alimentação; e tipo de domicílio, número de pessoas vivendo sob o mesmo teto, etc. são dicas importantes para o planejamento das cidades e dos modelos de produção e desenvolvimento adotados no País.

Irineu Tamaio, coordenador do Programa Educação para Sociedades Sustentáveis, do WWF-Brasil, explica que o País tem crédito ecológico, o que significa recursos suficientes para atender nossas demandas: “Entre países credores e devedores, estamos entre os credores. Mas, se 6 bilhões de habitantes consumissem como nós , precisaríamos de um planeta e mais um quarto, ou seja, de mais 25%”.

Ele acrescenta que a América do Sul, nos últimos 30 anos, foi o continente que mais degradou: “Se continuarmos neste ritmo, corremos um risco sério de entrar em colapso até 2040”. Neste sentido, a maior pegada do Brasil está no desmatamento e nas queimadas.

Como aspecto positivo da pesquisa, divulgada no ano passado com dados até 2005, Tamaio ressalta o crescimento da reciclagem, embora a concentração da destinação/tratamento adequado do lixo esteja concentrado nas regiões Sudeste e Sul. “O Nordeste tem o pior desempenho em relação à reciclagem no País”, afirma.

Outro avanço apontado na pesquisa é o do consumo consciente, incluindo mudanças em grandes redes de supermercados, que já disponibilizam produtos orgânicos, por exemplo.

Tamaio alerta, no entanto, que não adianta apagar a luz, desligar a torneira se não for considerado o aspecto coletivo e, para isso, a macro-estrutura do governo é fundamental: “É preciso também que o indivíduo questione se na sua cidade tem ciclovia, que destino é dado ao lixo, como é o transporte público, se o governo estimula o consumo de produtos da agricultura familiar. É importante pensar em políticas públicas. O governo só vai se posicionar se o consumidor exigir”, afirma.

O Brasil está numa encruzilhada ambiental e muitas vezes atribuímos, paradoxalmente, à coletividade, uma responsabilidade que não adotamos para as nossas vidas.

Mais informações:
www.wwf.org.br/pegadaecologica
www.pegadaecologica.org.br
www.footprintnetwork.org
www.myfootprint.org

FIQUE POR DENTRO
Pegadinha também para o Poder público

Verifique se o município onde você mora faz tratamento adequado dos resíduos sólidos (lixo) e líquidos (esgoto). Em caso negativo, vale mobilizar a comunidade para exigir a aplicação de uma gestão ambiental adequada às necessidades locais, incluindo a coleta seletiva.

Você pode incentivar o poder público a promover campanhas educativas em relação ao uso consciente dos recursos naturais e pode demandar que o sistema de transporte público seja melhor e mais eficiente.

Pesquise os rios, córregos e lagos formadores da bacia hidrográfica que abastece a sua cidade. Fique atento ao fato de que as áreas de mananciais (produtoras de água) precisam ser conservadas para que a água chegue à sua e às demais torneiras em qualidade e quantidade adequadas.

Fonte: Pegada Ecológica: que marcas queremos deixar no planeta?

Maristela Crispim
Repórter

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