A expressão “pegada ecológica” é uma tradução do Inglês “ecological footprint” e refere-se, à quantidade de terra e água necessária para sustentar as gerações atuais, tendo em conta todos os recursos materiais e energéticos gastos por uma determinada população. O termo foi primeiramente usado em 1992, pelo professora canadense William Rees, da University of British Columbia. Em 1995, Rees e o co-autor, Mathis Wackernagel, publicaram o livro “Our Ecological Footprint: Reducing Human Impact on the Earth”.
A “pegada ecológica” pode ser usada para medir e gerenciar o uso de recursos através da economia ou para explorar a sustentabilidade do estilo de vida de indivíduos, produtos e serviços, organizações, setores industriais, vizinhanças, cidades, regiões e nações.
Exatamente por estar relacionada aos padrões de consumo, a “pegada ecológica” de uma população tecnologicamente avançada é, em geral, maior do que a de uma população subdesenvolvida.
Para calcular as pegadas foi preciso estudar os vários tipos de territórios produtivos (agrícola, pastagens, oceanos, florestas, áreas construídas) e as diversas formas de consumo (alimentação, habitação, energia, bens e serviços, transporte e outros). As tecnologias usadas, os tamanhos das populações e outros dados, também entram nessa conta.
Cada tipo de consumo é convertido, por meio de tabelas específicas, em uma área medida em hectares. Além disso, é preciso incluir as áreas usadas para receber os detritos e resíduos gerados e reservar terra e água para a própria natureza, ou seja, para os animais, as plantas e os ecossistemas onde vivem, garantindo a manutenção da biodiversidade.
A “pegada ecológica” foi criada para ajudar-nos a perceber o quanto de recursos naturais utilizamos para sustentar o nosso estilo de vida, o que inclui a cidade e a casa onde moramos, os móveis que temos, as roupas que usamos, o transporte que utilizamos, aquilo que comemos, o que fazemos nas horas de lazer, os produtos que compramos.
Resumindo: a “pegada ecológica” de um país, uma cidade ou uma pessoa, corresponde ao tamanho das áreas produtivas de terra e de mar necessárias para gerar produtos, bens e serviços que sustentam determinados estilos de vida. Em outras palavras, é uma forma de traduzir, em hectares, a extensão de território que uma pessoa ou toda uma sociedade “utiliza” , em média, para se sustentar.
O movimento das ecovilas constitui um exemplo de como reduzir a “pegada ecológica” de um indivíduo, família ou comunidade. Nele é possível integrar harmonicamente vida social, econômica e cultural a um padrão de vida sustentável em todos sentidos. Começando pelo tipo de materiais de construção, redefinição de padrões de consumo e o ato de compartilhar e cooperar com as pessoas ao redor, atitudes coletivas que podem diminuir muito o impacto individual.
InsustentávelSe todos no mundo adotassem o mesmo padrão de consumo das classes A e B brasileiras, seriam necessários três planetas Terra para repor os recursos naturais utilizados. Segundo o relatório Planeta Vivo, da Rede WWF, a população mundial já consome, em média, 25% a mais do que a Terra é capaz de repor.
No ano passado, a organização não-governamental (ONG) WWF-Brasil divulgou pesquisa, realizada em parceria com o Ibope, que reúne dados sobre os hábitos de consumo do brasileiro. O objetivo foi identificar tendências de comportamento e qualidade de consumo do nosso povo e os impactos que esses padrões geram sobre o meio ambiente e, também, identificar avanços para um consumo consciente da sociedade brasileira.
A pesquisa traz informações valiosas, inclusive para orientar as políticas públicas de transportes, tratamento de resíduos sólidos e energia, por exemplo.
Dados sobre o comportamento do brasileiro em casa com relação à destinação do lixo, uso de energia elétrica, água; além de hábitos de consumo em supermercados e alimentação; e tipo de domicílio, número de pessoas vivendo sob o mesmo teto, etc. são dicas importantes para o planejamento das cidades e dos modelos de produção e desenvolvimento adotados no País.
Irineu Tamaio, coordenador do Programa Educação para Sociedades Sustentáveis, do WWF-Brasil, explica que o País tem crédito ecológico, o que significa recursos suficientes para atender nossas demandas: “Entre países credores e devedores, estamos entre os credores. Mas, se 6 bilhões de habitantes consumissem como nós , precisaríamos de um planeta e mais um quarto, ou seja, de mais 25%”.
Ele acrescenta que a América do Sul, nos últimos 30 anos, foi o continente que mais degradou: “Se continuarmos neste ritmo, corremos um risco sério de entrar em colapso até 2040”. Neste sentido, a maior pegada do Brasil está no desmatamento e nas queimadas.
Como aspecto positivo da pesquisa, divulgada no ano passado com dados até 2005, Tamaio ressalta o crescimento da reciclagem, embora a concentração da destinação/tratamento adequado do lixo esteja concentrado nas regiões Sudeste e Sul. “O Nordeste tem o pior desempenho em relação à reciclagem no País”, afirma.
Outro avanço apontado na pesquisa é o do consumo consciente, incluindo mudanças em grandes redes de supermercados, que já disponibilizam produtos orgânicos, por exemplo.
Tamaio alerta, no entanto, que não adianta apagar a luz, desligar a torneira se não for considerado o aspecto coletivo e, para isso, a macro-estrutura do governo é fundamental: “É preciso também que o indivíduo questione se na sua cidade tem ciclovia, que destino é dado ao lixo, como é o transporte público, se o governo estimula o consumo de produtos da agricultura familiar. É importante pensar em políticas públicas. O governo só vai se posicionar se o consumidor exigir”, afirma.
O Brasil está numa encruzilhada ambiental e muitas vezes atribuímos, paradoxalmente, à coletividade, uma responsabilidade que não adotamos para as nossas vidas.
Mais informações:www.wwf.org.br/pegadaecologicawww.pegadaecologica.org.brwww.footprintnetwork.orgwww.myfootprint.orgFIQUE POR DENTROPegadinha também para o Poder públicoVerifique se o município onde você mora faz tratamento adequado dos resíduos sólidos (lixo) e líquidos (esgoto). Em caso negativo, vale mobilizar a comunidade para exigir a aplicação de uma gestão ambiental adequada às necessidades locais, incluindo a coleta seletiva.
Você pode incentivar o poder público a promover campanhas educativas em relação ao uso consciente dos recursos naturais e pode demandar que o sistema de transporte público seja melhor e mais eficiente.
Pesquise os rios, córregos e lagos formadores da bacia hidrográfica que abastece a sua cidade. Fique atento ao fato de que as áreas de mananciais (produtoras de água) precisam ser conservadas para que a água chegue à sua e às demais torneiras em qualidade e quantidade adequadas.
Fonte: Pegada Ecológica: que marcas queremos deixar no planeta?
Maristela CrispimRepórter